ARTIGOS

Cátia Barbosa

13/5/2021 18:25

Comunicação clara e objectiva com os bancos é essencial para as PME

Com um papel fulcral no desenvolvimento da economia e do emprego, as Pequenas e Médias Empresas (PME) debatem-se com dificuldades no financiamento. As PME são uma realidade em praticamente todos os setores de atividade económica em Portugal.


“Em Portugal, as pequenas e médias empresas não são cotadas nem têm acesso a mercados financeiros pois, maioritariamente, é utilizado o sistema -“bank based system”- fazendo com que estas, caso tenham necessidade, recorram apenas aos bancos” para se financiarem, conclui um estudo realizado para uma tese de mestrado na Universidade do Minho, realizado em Maio de 2018.

A pesquisa, da autoria de Tomás Sardinha, incide sobre a dificuldade de financiamento das PME e procura entender de que forma as instituições bancárias diferenciam as condições de financiamento entre as grandes empresas e as PME. Esta investigação tem como base dados retirados do Banco de Portugal e do Instituto Nacional de Estatística (INE) e utiliza como metodologia uma abordagem macroeconómica (onde analisa o setor de atividade, a dimensão da empresa e a taxa de juro do mercado).

O estudo revela que, por definição, habitualmente, as PME não têm organização contabilística suficientemente completa e preparada para o detalhe analítico que as instituições bancárias aplicam, o que poderá causar maiores entraves aos financiamentos solicitados pelas pequenas e médias empresas. “Existem dois tipos de informação que as empresas podem fornecer: uma informação baseada nos registos da empresa (folhas de balanço, o historial de crédito, entre outras); e outra devida à dedução das lacunas da informação contabilística e sujeita a muitos erros”, pode ler-se na dissertação.

Quando a empresa não fornece informação suficiente torna-se “opaca” e reduz a capacidade de mostrar o possível sucesso do projeto. Deste modo, conceder crédito a empresas que apresentem esta falta de informação torna-se um risco para as instituições bancárias, levando-as a cobrar maiores taxas de juro e a exigir mais garantias.

Um outro motivo que, segundo a dissertação, está na base das dificuldades de financiamento das PME é o facto de serem os pequenos bancos a financiá-las. Em contrapartida, os grandes bancos tendem a conceder crédito a grandes empresas por acreditarem que estas obtêm melhores resultados.

Por outro lado, os pequenos bancos terão mais semelhanças com as PME ao nível da organização, o que lhes permite uma mais fácil aproximação e, consequentemente, menos reservas ao conceder créditos.

A pesquisa mostra ainda que  “os bancos preferem trabalhar com empresas mais maduras e que possuem algum tipo de relacionamento”, já que algumas empresas acabam por fechar no primeiro ano de existência. Empresas mais maduras reduzem o risco de falência e tornam-se mais credíveis, o que transmite segurança aos bancos quando se trata de financiar.

Há fortes razões para que seja difícil que novas empresas obtenham financiamento, porque mais do que verificarem se se trata de uma pequena, média ou grande empresa, as instituições bancárias optam por analisar o volume de negócios das empresas. “Uma vez que são novas [as empresas], não possuem histórico de crédito ou histórico de atividade, o que torna mais difícil aos bancos analisarem os seus projetos para conceder financiamento”, analisa Tomás Sardinha.

Os resultados do estudo mostram que o volume de negócios influencia em 15% - proporcionalmente mais relevante do que as restantes variáveis- a decisão de financiar ou não uma empresa. Quando estas não reúnem as garantias exigidas pelas instituições bancárias acabam por não conseguir o financiamento.

Por outro lado, os resultados apontam também para que as PME rejeitem essas garantias. Em alternativa, as pequenas e médias empresas procuram outros tipos de financiamento, sendo o mais recorrente o autofinanciamento -isto é, uma fonte de financiamento gerada dentro da própria empresa, nomeadamente, rubricas como o resultado líquido, as amortizações e as provisões do exercício económico ano após ano-.

A dissertação conclui, então, que “para as PME, recém-nascidas ou não, parece ser essencial comunicarem com os bancos de forma objetiva e clara, de modo a que o financiamento possa ser realizado nas melhores condições conforme o tipo de empresa e o investimento”. O volume de negócios é ainda apontado como sendo o fator que dita se a empresa será ou não financiada.

Dissertação publicada em Maio de 2018, da autoria de Tomás Sardinha, no âmbito do Mestrado em Economia Monetária, Bancária e Financeira, na Universidade do Minho: http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/55288

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